O que é pós-modernismo? A resposta dos críticos
O que significa “pós-modernismo”? Quais seriam as suas características principais?
Na obra “Imposturas Intelectuais”, Alan Sokal e Jean Bricmont descrevem e criticam diferentes expoentes do pós-modernismo e, assim, indicam também uma resposta para essas perguntas.
A partir da sistematização de diferentes trechos e ideias dessa obra, podemos entender “pós-modernismo” como uma filosofia ou corrente intelectual adotada nas últimas décadas, principalmente, por setores pertencentes às humanidades e às ciências sociais, e cujos adeptos costumam incorrer nas seguintes práticas:
- Adoção de um relativismo epistêmico unido a um ceticismo generalizado a respeito da ciência moderna que não raro culmina em atitudes anticientíficas.
- Afirmação de um relativismo cognitivo e cultural que considera a ciência como uma narrativa, um mito ou uma construção social.
- Rejeição mais ou menos explícita da tradição racionalista do Iluminismo, incluindo um dos seus mais importantes traços: a desconfiança em relação ao argumento de autoridade. Valor intelectual medido constantemente segundo os títulos e o status do autor, e não de acordo com o conteúdo da fala ou do texto. Veneração quase religiosa dos “grandes intelectuais”, que tornam-se figuras internacionais por razões sociológicas, e não intelectuais, particularmente pelo impacto de sua habilidade em manipular termos rebuscados. Indiferença profunda ou mesmo desprezo pelos fatos e pela lógica, pelos cânones da racionalidade e da honradez intelectual.
- Elaborações teóricas desconectadas de qualquer prova empírica. Ênfase no discurso e na linguagem em oposição aos fatos a que se referem. Omissão do aspecto empírico da ciência e enfoque quase exclusivo no formalismo teórico e na linguagem. Eventualmente, rejeição da distinção entre fatos e ficção e mesmo da própria existência de fatos aos quais seja possível referir-se; compreensão da realidade física e da realidade social como construções linguísticas e sociais; compreensão da ideia de que há um mundo exterior com propriedades independentes de qualquer ser humano individual e da humanidade em seu conjunto como equivalente a um dogma burlesco (ceticismo radical). Interesse excessivo por crenças subjetivas independentemente da sua verdade ou falsidade.
- Abandono do pensamento claro e da análise crítica e rigorosa das realidades sociais em prol do nonsense e de jogos de palavras. Discursos desnecessária e deliberadamente obscuros ou de difícil acesso, jargão truncado, estilo quase sempre pesado e pomposo. Afirmações grandiloquentes ou frases de efeito, afirmações ambíguas que ou são truísmos, ou são afirmações radicais (manifestamente falsas). Abuso reiterado de conceitos e termos procedentes das ciências exatas e naturais, o que inclui: fala prolixa sobre teorias científicas sobre as quais os autores possuem, na melhor das hipóteses, uma ideia vaga; emprego arbitrário (e frequentemente metafórico) de terminologia científica ou pseudocientífica sem maiores preocupações sobre significado; incorporação, às ciências humanas ou sociais, de noções próprias das ciências naturais sem nenhum tipo de justificação empírica ou conceitual e em desrespeito à autonomia das próprias ciências humanas e sociais; analogias entre teorias bem estabelecidas das ciências naturais e teorias excessivamente vagas para serem empiricamente verificadas; uso de avalanches de termos técnicos num contexto em que resultam absolutamente incongruentes, com os objetivos de exibir uma erudição superficial e de impressionar e intimidar o leitor; manipulação de frases sem sentido, combinada com uma profunda indiferença pelo significado das palavras.
- Salto de premissas mais ou menos razoáveis e aceitáveis para conclusões ilegítimas. É o que ocorre quando a crítica a aspectos sociais criticáveis relativos à forma como a ciência é utilizada (sexismo, militarismo etc.) se transforma numa crítica ao empenho intelectual que aspira a uma compreensão racional do mundo como um todo, e aos seus fundamentos.