Metodologia do Ensino Superior: Seminários ou Sala de Aula Invertida?

Henrique Napoleão Alves
4 min readSep 4, 2024

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Minha formação como professor e pesquisador se deu na UFMG entre os anos de 2004 e 2016. Neste período, cursei a graduação, o Mestrado e o Doutorado em Direito. Nas aulas de pós-graduação, tanto do Mestrado como no Doutorado, a formatação mais comum, em termos de metodologia de ensino, era uma combinação entre aulas expositivas do/a professor/a e apresentações dos alunos, essas últimas no formato dos chamados “seminários”.

Como aluno e professor em formação, me beneficiei muito dessa combinação e a considero bastante adequada. As exposições fazem sentido diante da assimetria, em termos de experiência e conhecimento especializado, entre os professores da pós-graduação e os alunos. Ao mesmo tempo, os seminários permitiam aos discentes se prepararem para a carreira docente num espaço privilegiado de experimentação e troca de ideias.

Tantos anos depois, percebo um movimento recente de valorização de uma outra técnica, a chamada “sala de aula invertida”. Ao preparar minhas aulas no Mestrado da Universidade FUMEC, o qual tenho a honra de integrar como professor visitante convidado, julguei por bem combinar as aulas expositivas com os seminários, mas com pitadas de “sala de aula invertida”, por assim dizer.

A sala de aula invertida

Na sala de aula invertida, os alunos estudam o conteúdo teórico em casa, geralmente por meio de vídeos, textos ou outros materiais disponibilizados pelo professor. O tempo em sala de aula é então usado para discussões, exercícios práticos, projetos e esclarecimento de dúvidas.

Principais características:

  • Estudo prévio do conteúdo pelos alunos;
  • Uso de tecnologia para disponibilizar materiais;
  • Tempo em sala focado em atividades práticas e discussões;
  • Professor atua como facilitador.

Os seminários

Nos seminários, os alunos, individualmente ou em grupos, preparam e apresentam um tema específico para a turma. Após a apresentação, geralmente há um período de discussão e perguntas.

Principais características:

  • Alunos são responsáveis por pesquisar e apresentar o conteúdo;
  • Desenvolvimento de habilidades de comunicação e apresentação;
  • Promove aprendizado entre pares;
  • Professor atua como mediador e avaliador.

Diferenças

Ambos, sala de aula invertida e seminários, visam tornar o aprendizado mais ativo e participativo, mas há diferenças.

Em relação ao papel do professor, na sala invertida, ele prepara materiais para estudo prévio e guia atividades em sala, enquanto nos seminários, define temas, orienta a preparação e modera as apresentações e discussões.

A dinâmica da aula também é distinta em cada abordagem. A sala de aula invertida foca em atividades práticas e discussões baseadas no estudo prévio, enquanto os seminários centram-se nas apresentações dos alunos seguidas de debates.

Em termos de abrangência do conteúdo, a sala invertida geralmente cobre toda a disciplina, ao passo que os seminários abordam temas específicos em cada apresentação.

Quanto à frequência de uso, a sala de aula invertida pode ser adotada como metodologia principal ao longo do curso, enquanto os seminários são comumente utilizados como atividades pontuais ou complementares no processo de ensino-aprendizagem.

Minha matéria do semestre

No Mestrado em Direito da Universidade FUMEC, estou lecionando a disciplina “Jurisprudência Internacional e o Direito Brasileiro”, sob a ementa a seguir:

Aprendendo a Aprender. A relevância da jurisprudência internacional para o direito brasileiro. A Recomendação №123/2022 do CNJ. O estudo da jurisprudência internacional pelo STF. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos. O procedimento quase-judicial perante a Comissão Interamericana. O processo judicial perante a Corte Interamericana. Análise de novos julgados da Corte Interamericana de Direitos Humanos e seu impacto no Brasil. Discussão de casos práticos com foco em áreas específicas do direito brasileiro. Enfoque na aplicação prática da jurisprudência internacional em situações concretas.

A turma tem poucos alunos, o que favorece a adoção de metodologias de ensino ativas. Optei por combinar aulas expositivas com os seminários dos alunos.

As aulas expositivas têm como foco i) a importância crescente da jurisprudência internacional em relação ao Direito interno brasileiro; ii) os mecanismos judiciais e quase-judiciais de solução de controvérsias internacionais em direitos humanos, com ênfase naqueles aplicáveis diretamente ao Brasil; iii) julgados internacionais selecionados e seu impacto em relação ao Direito interno brasileiro.

Através dessas aulas e da leitura dos materiais indicados, espero promover um nivelamento da turma quanto ao tema. Além do estudo do material e das aulas expositivas, cada aluno também se incumbe a apresentar uma decisão judicial ou quase-judicial durante os seminários, segundo orientações específicas. Ao final, cada aluno deverá escrever um breve artigo sobre a decisão objeto de sua apresentação. As orientações para os seminários e o artigo abrangem: atenção ao tempo de apresentação e de discussão subsequente; a preparação de um hand-out para acompanhar a apresentação; o estudo de materiais selecionados pelo professor, incluindo materiais audiovisuais; indicações sobre como realizar a pesquisa para a apresentação e a elaboração do artigo final.

É por isso que salientei, na introdução, que minha disciplina combina as aulas expositivas com os seminários, mas com “pitadas” de sala de aula invertida. As “pitadas” se refletem na expectativa de que os alunos estudem o material indicado antes das aulas, preparando-se não apenas para os seminários, mas também para discussões mais aprofundadas durante as aulas expositivas. Além disso, ao fornecer orientações específicas para a preparação dos seminários e do artigo final, estou incentivando um estudo prévio e autônomo. A combinação dessas abordagens visa criar um ambiente de aprendizado mais dinâmico e participativo, onde o tempo em sala de aula é otimizado para discussões, esclarecimento de dúvidas e aplicação prática do conhecimento, enquanto ainda mantenho os benefícios das exposições do professor e das apresentações dos alunos.

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Henrique Napoleão Alves
Henrique Napoleão Alves

Written by Henrique Napoleão Alves

Ph.D. in Law | Lawyer, lecturer, researcher | Views in personal capacity | Advogado e professor. Opiniões em caráter individual.

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